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  • Jorge Alexandre Moreira

Sobre o que a vida pensa dos seus planos

Diz um provérbio árabe que quando os homens fazem planos, Deus ri.

Exatamente um ano atrás, quando máscaras não estavam na moda e ninguém imaginava que estariam, minha esposa aproveitava o intervalo do almoço para ir ao banco, quando, ao

passar em frente a uma pet shop, viu uma mulher falando ao telefone, com um cachorro agarrado na perna.

Talvez o mais interessante, sobre o que aconteceu a seguir, é que Luana jamais havia sido uma dog person. Não que ela não gostasse de cachorros, mas os tratava com certa reserva – e um pouco de medo, dependendo do porte. Naquela 3ª feira de outono em Copacabana, no entanto, ela fez algo que nunca – nunca – havia feito antes: parou e ficou fazendo carinho naquele cachorro desconhecido.

Quando a mulher desligou, Luana comentou como o cachorro era bonitinho.

— Não é meu. Acabaram de largar no meio dos carros.

— Como assim?

— Na Nossa Senhora de Copacabana, um casal de bicicleta. Eles vinham com dois cachorros e largaram, eu vi.

Mesmo sem estar presente, sei exatamente a cara que Luana fez nessa hora. A mulher, que se chamava Marcela, continuou:

– Eu não acreditei, tava vindo com bolsa de academia, larguei no chão, entrei na frente do trânsito, parei os carros. Um fugiu.

Dias depois, conversando com porteiros, descobriríamos que o outro havia sido atropelado e morto.

-- Esse correu pra um restaurante, subiu numa cadeira e ficou lá, tremendo. Eu peguei, trouxe pra dar banho, comprei coleira, mas não tenho como ficar. Estou tentando ver alguém pra ficar com ele.

Luana, que, a essa altura, já havia me mandado uma foto do cachorro, enviou um áudio esbaforido com uma história cheia de pedaços faltando. Só lembro de uma parte:

— Amor, vamos ficar com ele! É tão bonitinho.

E eu, dog person forever, que brinco com todos os cachorros na rua, que passo nas feirinhas de adoção e quase choro, mas que ficava enrolando para ter o meu, com medo da perda de liberdade, das restrições para viajar, yadda, yadda, respondi:

— Tudo bem, amor. Só vamos falar com o dono do apartamento primeiro.

E assim, em minutos, tudo mudou. Levamos esse pestinha para onde dá, morremos de saudade quando não dá e não imaginamos nossa vida sem ele, agora.

Galeto chegou magrinho, machucado e cheio de lugares com o pelo faltando. O exame de sangue mostrou que nunca tinha tomado vacina – e nem pôde tomar por um tempo, de tão debilitado que estava. Tinha uma costelinha quebrada também. Hoje tem 8 kg, pelo brilhoso e corre igual a um coelho. Não larga a Luana por nada.

Hoje é seu aniversário, o dia em que nasceu de novo. Parabéns, Galeto! Taurino com – de acordo com Luana – ascendente em Gêmeos.

É fascinante e assustador o poder do inesperado em nossas vidas. Como tudo pode mudar por conta de um evento casual, impossível de ser previsto. Será que determinadas coisas têm que acontecer e acontecerão? Ou os dados estão rolando o tempo todo e decisões tomadas em segundos podem dar um rumo totalmente diferente a nosso destino?

São questões que assombram o homem há milênios. O que sei é que Luana saiu para depositar um cheque e voltou com um cachorro. O que sei é 4 anos atrás, entrei em uma livraria na hora do almoço, sem intenção de comprar nada, puxei conversa com uma desconhecida e, três anos depois, estava me casando com ela.

Será que existem dias comuns?


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