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  • Jorge Alexandre Moreira

Dia Mundial do Livro - 2020

Leio e escrevo desde os 4 anos. Não tenho ideia de qual foi meu primeiro livro, desde que me lembro, eles estavam lá.


Pela mesma razão, é difícil imaginar que tipo de pessoa eu seria, não fosse a leitura. Ela é a estrutura do meu pensamento consciente, está entranhada na minha constituição.

Os livros ampliaram minha visão, aprofundaram minha empatia, anabolizaram minha imaginação. Eles também criaram um vale entre mim e o mundo real ao meu redor, pois eu estudava com crianças mais velhas, encontrava dificuldades para me socializar e me refugiava nos livros, ampliando o vale. Esse círculo vicioso só era rompido pela mesma mãe que, além de me ensinar a ler naquela idade insana, também me forçava a fechar os livros e sair para brincar.

Esse escapismo vinha sem esforço, muito pelo contrário. Eu me enfurnava em casa para ler com o mesmo prazer com que qualquer garoto joga vídeo-game o dia inteiro. A diferença, claro, é que não havia vídeo-games. Nem celulares, nem internet, nem TV a cabo com duzentos canais. Havia meia dúzia de canais de TV aberta que passavam os mesmos filmes um milhão de vezes e que você assistia porque não havia opção. Até o videocassete - que só começou a se popularizar pelos meus 16, 17 anos - era bastante limitado, tanto na variedade dos títulos, quanto na demora para eles chegarem do cinema às casas.

Nesse contexto, ler como entretenimento significava algo totalmente diferente. Não era só o fato de que você não era interrompido a cada dois minutos por alguma notificação, Dentro de casa, não havia tanta coisa assim para fazer. Isso, além de foco permitia uma relação muito mais íntima e profunda com o que se estava lendo.

Hoje, os livros disputam com aquela série, aquele filme e aquela fase daquele jogo do XBox. Isso para não falar das notícias, do feed da sua rede-social-drug-of-choice e daquele idiota do grupo do Whatsapp com uma opinião política diferente da sua, que você precisa ir lá espezinhar.

É inegável: há uma guerra por sua atenção. E é muito provável que ela esteja sendo jogada aos quatro ventos, em vez de colocada em algum lugar onde você gostaria. Pode ser, ainda, que você esteja perdendo uma das experiências de entretenimento mais apaixonantes e mais profundas que um ser humano pode ter, que é ser totalmente sugado por um bom livro de ficção.

Antes que eu comece a me perder em clichês sobre a magia e o prazer de ler, vou ao ponto mais importante de todo esse texto: a literatura de ficção não pode ser experimentada sem imersão. Não em sua totalidade. Ela não entrega tudo que tem se você não der tudo que tiver. Então, pegue um bom livro, deixe o celular longe, feche a porta e mergulhe.

É isso. Acabou.

Eu poderia suar e rebolar atrás de metáforas bonitas, mas não mudaria coisa alguma. Não é isso que vai te fazer ir lá. Isso só acontecerá pelo desejo de experimentar algo novo ou pela lembrança de algo que você experimentou e não experimenta mais.

Eu torço de coração para que você faça esse movimento mas, se não fizer, não briguemos. Já temos aqueles idiotas do Whatsapp com quem discutir.


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