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Jorge Alexandre Moreira

E Quando Só a Tripulação Desaparece?


Nossa história é repleta de casos de navios e aeronaves que desapareceram sem deixar vestígios. Embora esses contos cativem minha imaginação, o cético que habita em mim nunca me deixa esquecer como são vastos e profundos nossos oceanos. Sejamos honestos: não é difícil algo sumir no mar. O exemplo mais célebre disso talvez seja o do Titanic - um monstro de metal com 270 metros de comprimento e local de naufrágio fartamente documentado que ficou desaparecido por 73 anos.


Mas e quando só a tripulação desaparece? E os barcos que são encontrados à deriva, algumas vezes com suprimentos e carga intacta? Ou com a mesa posta?

Em um dia claro de mar calmo de maio de 1850, o pesqueiro Seabird, apareceu em uma praia de Rhode Island, não muito longe de onde saíra, e foi direto até a areia, onde encalhou. Testemunhas subiram no barco para saber o que havia acontecido, mas não havia ninguém a quem perguntar. As únicas coisas vivas no barco eram um cão, um gato e um periquito, todos em perfeita saúde. Havia um bule com água fervendo no fogão aceso, mesa para oito pessoas posta, dinheiro à vista, em cima da mesa do capitão e uma valiosa carga em peixe e frutos do mar, intacta. O último registro no diário de bordo era uma anotação daquela manhã, falando sobre o mar calmo. Um barco lagosteiro havia cruzado pelo Seabird apenas algumas horas antes dele encalhar na praia e tinha visto gente no convés e nenhum sinal de algo pudesse estar errado.


Mas, talvez um dos mais intrigantes casos de navios abandonados tenha sido vivido pela tripulação do Ellen Austin, uma escuna que fazia habitualmente o trajeto Nova Iorque - Liverpool, levando e trazendo carga, correio e pessoas. Em 1881, ela vinha de Londres rumo a NY quando o capitão avistou uma escuna não identificada "em bom estado, mas sem sinais de movimentação no deck, e seguindo um rumo errático". O Capitão Baker ordenou que o Ellen Austin se aproximasse e verificou que as velas do outro barco estavam gastas pelo tempo, mas os cordames - os sistemas de cordas que mantém os mastros de um barco a vela firmes - continuavam intactos. Baker mandou interromper a viagem e ficou próximo da escuna, observando-a. Após observá-la por dois dias, para se assegurar de que não era uma armadilha, o capitão e um grupo de seis homens armados subiram em um bote salva-vidas e foram até a escuna. Eles invadiram o navio, armas em punho, mas não encontraram ninguém. Nem cadáveres. O navio estava em perfeito estado. Sua carga, aparentemente intacta, incluía roupas, víveres, munição e um caríssimo carregamento de mogno, perfeitamente embalado. Faltavam o diário de bordo e as placas da proa, que permitiriam identificar o barco.

Era estranho, mas também era uma oportunidade imperdível. O resgate de um barco desses valia muito dinheiro. Baker reuniu um grupo com alguns com alguns de seus melhores homens e mandou-os irem a bordo da escuna para conduzi-la, junto com o Ellen Austin, para Nova Iorque. Por alguns dias, os navios navegaram, mantendo distância visual e se comunicando por gritos, mas veio uma tempestade brutal, que durou dias e o contato foi perdido. Quando a tempestade passou, o mar ficou calmo como piscina, mas a escuna havia desaparecido. Algum tempo depois, o homem na vigia no alto do mastro principal percebeu um ponto no horizonte e, pela luneta, viu, muito mal, as velas de um barco.

Demorou horas para alcançar a escuna e, a essa altura, a tripulação do Ellen Austin já sabia que havia algo errado, pois ela estava fora de curso e navegando erraticamente outra vez. Um novo grupo abordou o barco, armas em punho, e encontrou um novo mistério, mais perturbador que o primeiro. Os homens do Ellen Austin haviam desaparecido. Mais estranho. As camas não tinham sinal de terem sido usadas e a comida estava quase toda intocada.

O capitão Baker, um homem com ambição maior que a superstição, selecionou outro grupo e mandou-os conduzirem a escuna. Pode parecer loucura que alguém obedeceria uma ordem como essas, mas os tempos eram outros. Um capitão tinha uma dose generosa de poder sobre sua tripulação e os capitães do Ellen Austin tinham fama de ter mão pesada. Uma notícia do New York Times da época denunciou que por conta de uma desobediência trivial, um capitão do Ellen Austin teria espancado um marinheiro com uma corda de fios e, depois, deixado que um cão mordesse-lhe as pernas.

Veja pelo lado bom: estamos no século XXI, temos carros voadores e essas coisas não acontecem mais.

A segunda equipe do Ellen, que agora levava armas, subiu a bordo da escuna. Os barcos navegaram juntos por um tempo - mantendo uma distância máxima de 200 metros -mas, após algumas horas, um forte nevoeiro envolveu os navios, diminuindo a visibilidade para algumas dezenas de metros. Quando o nevoeiro passou, a escuna havia desaparecido. Nem ela, nem os homens que subiram a bordo jamais foram vistos outra vez.


 




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