Era uma noite no começo da década de 80. Eu tinha 10 anos e a TV, 5 canais. Minha mãe estava sentada a meu lado, no sofá.
Na tela diante de nós, um velho - cabelos brancos em pé, lampião na mão - aproxima-se da cratera fumegante de um meteoro que acabou de cair. O velho cutuca a estranha rocha esférica com um graveto e ela se quebra como um ovo, revelando uma massa pastosa no interior. O velho a espeta com o graveto e ela escorre na direção de sua mão (a essa altura, você está pensando que"ninguém faz isso na vida real", mas espere um pouco - as pessoas fazem pior. Falamos sobre isso já).
Você jura que acha que isso é uma boa ideia?
O velho vira o graveto, mas a coisa, em vez de cair, dá um bote em sua mão e a engole. O velho corre, gritando de dor e pânico, enquanto sua mão é dissolvida.
Nesse momento, no auge dos meus 10 anos, estou no sofá com olhos do tamanho de pratos. O pesadelo está apenas começando - são os minutos iniciais de The Blob (A Bolha Assassina) e o velho é a primeira vítima. A massa gelatinosa cor de sangue coagulado crescerá, à medida em que devora mais e mais pessoas e avança pela cidadezinha que teve o azar de receber sua visita.
Caras, vocês não têm ideia de onde estão se metendo. Apenas corram.
Tiros, chamas, explosões, nada consegue pará-la. A bolha invade um cinema lotado e sai de lá com o tamanho de uma casa. Ela só é derrotada quando... ok, você é tão espartano que não aceita spoiler nem em filme de 1958? Tudo bem, eu te entendo. Pule até depois da próxima figura.
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A bolha só é derrotada quando alguém percebe que ela tem aversão ao frio. Então eles a congelam e a jogam de helicóptero no Ártico, achando que estarão a salvo para sempre (porque, nessa época, ninguém, ainda, tinha ouvido falar de aquecimento global).
Parecem testículos escapando pelas beiradas de uma cueca,
mas é apenas uma forma de vida alienígena devoradora de pessoas.
The Blob, uma produção independente de um estúdio que só tinha feito filmes religiosos, foi um filme estranho e revolucionário. Steve McQueen (que faz papel de adolescente mesmo tendo uns 30 anos de idade) ganhou uma merreca porque queria ser pago na hora. E o filme acabou se tornando um clássico do terror, com vários remakes.
Mas a informação mais what-the-fuck a respeito dele é a de que ele foi baseado em uma história real.
Apertem os cintos. A coisa vai ficar estranha a partir daqui.
27 de setembro de 1950. No Rio de Janeiro, Carmen Lucia, minha mãe, completava três anos. Muito ao norte, em uma noite fria na Filadélfia, John Collins e Joseph Keenan, dois policiais veteranos, faziam a ronda em seu carro. Ao passarem pela esquina da Avenida Vare com Rua 28, eles viram um objeto caindo do céu lentamente, como um pára-quedas. Dizia o relatório policial:
"Quando os policiais perceberam o objeto pela primeira vez, ele estava na altura do topo das árvores e foi descrito como tendo 2 metros de diâmetro. Ele pousou em um campo próximo e os oficiais, examinando-o, perceberam que ele emitia um brilho púrpura que era quase uma névoa."
A coisa foi descrita como uma geleia pulsante, de cor lavanda, orvalhada com algo que pareciam bolhas de sabão. Ela vibrava e se movia - há um relato de que subiu em poste - mas, apesar disso, era tão leve que não amassava o mato.
Sabendo o quanto isso tudo soaria estranho no no dia seguinte, Keenan e Collins chamaram reforço. Chegaram mais dois policiais, que, no dia seguinte, confirmariam tudo o que os outros já tinham visto.
Agora, lembra o que eu disse sobre as pessoas fazerem coisas mais absurdas na vida real que na ficção? Pois John Collins, um policial veterano em uma das cidades mais perigosas dos Estados Unidos, achou que fazia sentido tocar uma coisa púrpura, brilhante, pulsante que havia caído do espaço.
É um fato: as pessoas fazem merda em filme de terror porque elas fazem merda na vida real.
Mas Collins, o tipo de cara que sai pra ver que barulho foi aquele lá fora, teve sorte. A coisa grudou em sua mão, mas evaporou minutos depois, deixando para trás uma gosma sem cheiro. E em meia hora, toda ela havia evaporado de vez.
No dia seguinte, notícias com títulos como "Disco Voador se Dissolve" saíram nos jornais. Os quatro policiais insistiram que o que eles viram era, definitivamente, algo vivo.
Você pode achar que o Departamento de Polícia da Filadélfia tem problemas com alcoolismo - provavelmente, estará certo - mas o fato é que relatos de massa gelatinosa caindo do espaço ocorrem, em muitos lugares, há muito tempo.
Em agosto de 1979, uma mulher do Texas reportou o aparecimento de bolas de geleia púrpura em seu quintal, depois de uma chuva de meteoros.
Em 1910, T. Mckenny Hughes publicou um artigo científico na revista Nature sobre meteoros sendo associados com "geleia das estrelas" por poetas e antigos escritores.
Em novembro de 1846, habitantes de Lowville, Nova Iorque, reportaram a queda de um objeto do céu que se transformou em uma geleia fétida.
O filósofo inglês Henry Moore escreveu, em 1656, que "as estrelas comem... e aquelas estrelas cadentes, como alguns as chamam, que são encontradas na Terra na forma de uma geleia tremulante, são seu excremento".
Mas não pense que essas coisas não acontecem mais. Na noite de 3 de novembro de 1996, várias testemunhas reportaram um meteoro riscar o céu na cidade de Kempton, Tasmânia. Na manhã seguinte, uma gosta gosma branca translúcida foi encontrada em gramados e ruas de toda a cidade.
Bons sonhos.
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